O seu João e sua infância na pequena Joinville

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15 de janeiro de 2013 por deglutindopensamentos

Eliton Felipe

38239_Luz e sombras

A partir de hoje, uma vez por mês, vou contar um pouco sobre a vida de um grande amigo meu. Não colocarei o seu nome verdadeiro, identificando-o apenas como João, pois ainda não lhe pedi permissão para falar dele.

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Alameda Brustlein, Antiga Palmenalle (Rua das Palmeiras)

João nasceu em Joinville em meados do século XX, no distrito de Pirabeiraba. Ali viveu os seus primeiros anos junto de seus irmãos e pais. Assim como muitos dos seus concidadãos da época era descendente de alemães, o que, anos depois, se descobriu um equivoco. Seu pai, “germânico” casou-se com uma linda mulher, segundo João, não havia ninguém tão linda quanto ela por aquela região e continuava não tendo anos depois quando a família se mudou para o centro da cidade. O problema é que ela não era o “perfil” que a família de seu pai aprovaria, fruto do preconceito existente em um estado que, durante os anos 1930, possuía o maior número de pessoas filiadas ao Partido Nazista fora da Alemanha e, por isso, os netos nunca tiveram muito contato com os avós paternos.

A vida cultural em lugares pequenos e distantes como esse é sempre muito reduzida, mas quando crianças, passamos por tantas coisas que alguns acontecimentos ficam na nossa memória de tal forma, que mesmo após décadas de vida continuam a nos encantar.

Em Pirabeiraba esses acontecimentos, na memoria do João, se resumem a dois momentos. Quando estava próximo de completar oito anos de idade, por exemplo, passou pela região um circo. Um circo não, uma tentativa de ser circo. Dois artistas circenses que faziam o povo rir brincando com ovos debaixo de uma lona repleta de furos, pagava quem podia, quem não podia entregava galinhas, um prato de arroz e feijão e por aí ia. Aquela cena até hoje faz seus olhos brilharem. Ao relembrar aqueles momentos, João volta a ser aquele garoto de pés descalços rindo das piadas daqueles dois forasteiros.

Outro momento de alegria era o cinema do SESI. A população se reunia para ver um projetor 8 milímetros tocado a manivela, o momento alto das apresentações era quando o rolo arrebentava, a película era interrompida e todos esperavam ansiosos pelo fim do filme enquanto alguém fazia os reparos.

Os pais de João batalhavam para criar os filhos e garantir o sustento da casa. Enquanto o pai, funcionário do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), trabalhava na manutenção da BR 101 que, na época, era uma grande rodovia de chão batido com uma pequena circulação de automóveis, a mãe cuidava da plantação de batatas, aipim, da horta e da casa. Sem estudos, como a esmagadora maioria da população brasileira da época, o pai de João vislumbrava uma vida melhor para os seus filhos garantindo que esses tivessem acesso a escola. Para isso, foi necessário abandonar tudo o que tinham e mudar drasticamente de vida, vindo para a “cidade”. Se estabeleceram no bairro Bom Retiro, ali no fim da João Colin, isso foi por volta de 1950, ano em que Getúlio Vargas visitou o município durante a corrida presidencial. Para João, um dos momentos mais marcantes de sua vida. Ver aquela multidão de trabalhadores aguardando a chegada do avião que trazia o então candidato a presidência e depois empurrar o seu carro do Cubatão até o centro de Joinville, estar presente durante o discurso feito da sacada do antigo Cartório Rodrigo Lobo na Praça Nereu Ramos deve ter sido a imagem mais incrível na vida de vários homens de Joinville. Mas não para João, o que ele passaria anos depois provaria que ele tinha nascido para ser muito mais do que um simples espectador da história.

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Praça Nereu Ramos em algum momento do passado

Mas isso é outro assunto que eu continuo no mês que vem.

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