Redes sociais e seu potencial contra-hegemônico
Deixe um comentário7 de fevereiro de 2013 por deglutindopensamentos
Pedro Magrini
O tema do post de hoje é uma rede social virtual, o facebook. Mais especificamente algumas oportunidades contra-hegemônicas que a rede pode potencializar. Segundo a enciclopédia virtual Wikipédia, o facebook surgiu em 2004 e hoje já atingiu a marca de 1 bilhão de usuários. Números impressionantes que mostram o impacto e a capacidade de globalizar informações dessa ferramenta. Qualquer tipo de informação.
Posso dizer que acho o facebook um universo virtual muito interessante, às vezes útil, às vezes bizarro e muitas vezes fútil. Tudo ao mesmo tempo, basta uma rápida passada nos feedbacks de notícias e veremos diversos tipos de compartilhamentos. Essa palavra por sinal entrou de vez no vocabulário cotidiano de todo brasileiro, além do curtir, lógico. São autorretratos tirados no espelho ou com o braço bem estendido para que enquadre a pessoa e a paisagem, direcionando olhares sensuais e biquinhos modelados por vezes pelo Instagram, o que da um ar mais cult a foto. Há a difusão de frases célebres de escritoras/es, como Clarice Linspector e Paulo Coelho, músicos como Renato Russo e cumpadre Washington com as ilustres frases Du du du du pááááááá e ordináááária. Além de trechos de livros, de revistas e da Bíblia que em grande parte das vezes são utilizados de forma reduzida e fora do contexto, sempre ao gosto do freguês e de suas situações de vulnerabilidade. Sempre tenho a sensação de que essas frases são indiretas a alguém. Procede essa minha impressão? As montagens com frases anônimas e piadas, nem sempre engraçadas, são muito recorrentes. No entanto, já dei boas risadas com algumas dessas tiras, sobretudo às que se utilizam das imagens dos personagem do Chaves e do Chapolin. Tudo é válido nesse universo onde os inibidos se desinibem, onde os revolucionários e reacionários são facilmente identificados e alienados se tornam antenados/informados num singelo compartilhamento.
Não poderia nunca esquecer outra prática recorrente no facebook. Aquela que substitui os diários íntimos, mas que expõe somente uma intimidade meio careta. São fases colocadas ao longo do dia e que demonstram sentimentos momentâneos e atividades cotidianas das pessoas. Tem o check-in que exibe o local onde a pessoa está. Check-in no bar tal, na loja tal, na universidade X, no aeroporto Y. Frases de felicidade e tristeza incontidas são outros exemplos. Bom dia genteeeeeeeeeee; Tomando um café da manhã delicioso com meu amor…; hj acordei com sono; ai que tristeza. Sinceramente, falta um pouco de criatividade e verdade nessa rotina, vamos ser mais desinibidos gente. Tenho vontade ver coisas assim: check-in no Motel Tennessee Ltda; check-in na privada do lavabo de casa com a seguinte frase dando uma puta cagada matinal…uhuuuuu; ou sexo com maridão não rolou porque ele broxou. Seria, no mínimo, criativo.
Outras coisas que sempre são compartilhadas e que, particularmente, gosto e aproveito muito são músicas, filmes, reportagens e campanhas. É o que mencionei inicialmente e reitero, o lado mais positivo da ferramenta e suas possibilidades contra-hegemônicas. Faço essa afirmação a partir do conceito de globalização contra-hegemônica ou globalização por baixo de Octavio Ianni (Ainda não consigo fugir completamente do meu academicês). Para o autor, esse conceito se remete às alternativas aos processos globalizanteshegemônicos, ou seja, seria uma reação de classes e grupos sociais subalternos de diferentes localidades que se organizam para formular e construir práticas alternativas. Esse processo ocorre com o apoio da internet para divulgação de qualquer atividade que não tenha condições de estar na mídia, seja por falta de dinheiro, seja pela pauta incompatível com os interesses de mercado e do próprio Estado.
Posso citar vários movimentos contra-hegemônicos de diversas naturezas que se apropriaram da rede mundial de computadores para difundir suas ideias, campanhas, produtos e informações. Um dos movimentos sociais mais conhecidos do mundo, o EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional) ficou conhecido globalmente em 1994 com a utilização da internet, por onde conseguiu noticiar a situação dos indígenas em Chiapas, estado mexicano, causando solidariedade por todo o mundo. Aproveito aqui para indicar uma leitura sobre esse caso. O texto Das montanhas mexicanas ao ciberespaço de Pedro Henrique Falco Ortiz pode ser baixado nesse link: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000300012&script=sci_arttext&tlng=es.
Outro exemplo bem mais recente é a Marcha das Vadias (SlutWalk), que se alastrou pelo mundo através das redes sociais, especialmente o facebook, aglutinando reivindicações de cunho feminista, sobretudo, denunciando a visão patriarcal em torno do estupro. Além desses movimentos mais globais, as redes sociais também possibilitam pequenos movimentos locais de comerciantes e produtores a difundirem seus produtos, fazendo propaganda gratuita e, me parece, de relativo impacto. Os artistas musicais, entre outros, fora do mainstrem também se beneficiam divulgando suas produções, que pouco visibilidade teriam fora desse universo virtual. E porque não o próprio blog Deglutindo Pensamentos, que num pequeno universo de ideias e sem grandes pretensões se difunde a passos largos.
Mas não nos enganemos, o facebook é uma ferramenta hegemônica, completamente inserida nos interesses de mercado. Além disso, serve, inclusive, como ferramenta de disseminação do ódio e do preconceito, na maioria das vezes de forma sutil. Sua abertura, apesar de algumas restrições, serve a várias ideologias, das mais moderadas às mais ortodoxas.
Concluo, reafirmando o potencial do facebook como ferramenta multiuso, de divulgação de movimentos sociais e de grupos subalternos, de campanhas sociais, como meio de lazer, entretenimento e informação. Mas pondero meu otimismo criticando e expondo suas limitações. Uso como exemplo uma das reivindicações recentes que considero mais como indignação fútil e passageira do que um processo crítico e consciente em busca mudança. A eleição de Renan Calheiros é um exemplo perfeito e está entre os posts mais compartilhados nos últimos diais. Sem sombra de dúvida é uma indignação procedente e que deve mesmo ser difundida, mas que soa um tanto superficial. Como toda notícia nova, deve se estender nos meios de comunicação por mais uma semana no máximo, correndo sério risco de se tornar um mero ato de aperto nos links de curtir e compartilhar. Isso já ocorreu dois anos atrás. Será que grande parte das pessoas não se lembra que o antigo presidente do senado era o highlander José Sarney? Vejo mais um movimento fútil e inerte em várias dessas reivindicações seletivas, do que criticidade digna de um movimento sólido e consciente. Clicar em compartilhar e curtir é um ato simplista demais para julgarmos relevante. Vamos refletir.
Como pretendo sempre fazer por aqui. A dica cinematográfica dessa semana, como não poderia deixar de ser, é o filme A Rede Social, que conta o surgimento do facebook e a conturbada relação de seus idealizadores. Segue o link da crítica de Pablo Villaça. Segundo ele, o filme merece cinco estrelas. Concordo.
http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=9438